Você provavelmente já participou de uma reunião em que as pessoas estavam focadas o bastante em suas próprias opiniões para não renunciarem ao seu ponto de vista, certo? Ou, talvez, esteve em uma discussão em que já não conseguia mais ouvir o outro e levantou o seu tom de voz para impor a sua crença. Aliás, há chances de você já ter perdido o foco e sentido raiva durante uma apresentação porque alguém fez uma pergunta que parecia absurda.
Afirmo isso porque acontecimentos semelhantes a esses são mais comuns do que a gente imagina. Vários dos meus clientes já relataram pelo menos um exemplo de conversa decisiva em que as pessoas “perderam as estribeiras” e não chegaram ao resultado que tinham em mente. Mas a boa notícia é que essas situações podem ser contornadas!
Neste artigo, vou compartilhar um caso que aconteceu comigo e, a partir dele, apresentar três estratégias para que você consiga lidar com momentos fervorosos de debate e aprenda a fazer a gestão da emoção, admitindo o não saber e reorganizando o discurso para que o resultado seja positivo para todos os envolvidos. Aprendi essas estratégias ao longo da minha carreira, a partir de estudos sobre negociação, criatividade, filosofia e comunicação.
Há dois anos, estava ministrando um treinamento de negociação, a sala estava lotada. Paramos para tomar café e um dos participantes falou: “eu não acredito que as pessoas possam mudar” e, na sequência, trouxe inúmeros fundamentados (que, para mim, não faziam sentido) para defender o que estava dizendo. Imediatamente pontuei que discordava. Foi quando a sala se dividiu: de cada lado, um grupo que tinha certeza absoluta da ideia que defendia. Vocês já podem imaginar que foi uma loucura. As pessoas debatiam se concordavam ou discordavam de mim ou do meu aluno e os ânimos ficaram cada vez mais exaltados. Minha mão começou a suar – e foi quando decidi dar dois passos para trás e me distanciar da discussão. Isso durou um minuto, cronometrado pelo gestor de projetos que acompanhava a discussão. Foi o tempo suficiente para pensar e voltar com uma nova perspectiva.
Bem, esses dois passos para trás me fizeram repassar a argumentação do meu aluno. Usei a estratégia de entender o problema de acordo com o ponto de vista dele. Olhei para as perspectivas dele, analisei as minhas, encontrei os nossos pontos em comum e os que conflitavam. Então voltei ao diálogo com novas possibilidades e argumentações. Foi quando todo mundo começou a se acalmar.
Fato é que mudar a perspectiva e o foco nem sempre é simples, mas é certamente possível. Nas estratégias que listo abaixo, vou trazer algumas dicas que, tenho certeza, podem te ajudar. Vamos lá!
Vou repetir uma frase que o escritor americano Mark Twain disse há um século: “o grande problema não é o que você não sabe. É o que você tem certeza que sabe, mas que não é verdade”. Ou seja: se temos uma suposta certeza daquilo que sabemos, quando outras pessoas trazem uma argumentação oposta ou fazem perguntas que incomodam, instantaneamente somos tomados por uma vontade de contra-argumentar, negar o que está sendo dito pelo outro e, em poucos minutos, até sem perceber, entramos em um debate sem fim, sem foco e sem resultado. Paramos de escutar ativamente, nossa criatividade vai embora em um estalar de dedos e as emoções ficam à flor da pele.
Não se deixe enganar pela sua suposta certeza sobre o seu cliente, sobre você, sobre o seu negócio ou mesmo sobre o mundo. Assuma que, mesmo sendo um especialista e tendo muita confiança naquilo que está dizendo, sempre existe espaço para o aprendizado. E as perspectivas do outro podem enriquecer as suas argumentações.
Abandone a convicção que tem das coisas: para expandir ideias, é preciso ser humilde. Primeiro, reconheça (pelo menos para si mesmo) que você não tem todas as respostas e que você não sabe tudo, nem mesmo sobre os assuntos que domina. Para alcançar o saber, é necessário reconhecer o não saber.
O mais importante não é vencer, mas desvendar – por meio do diálogo – quais podem ser as novas perspectivas e possibilidades. Elas, sem dúvidas, resultarão em benefícios para o negócio, para você e para as equipes.
Reconhecer que você não sabe ajuda a ativar a escuta ativa, a focar em perguntas que exploram novas possibilidades e a melhorar a capacidade de contra-argumentação. Então, se porventura entrar em uma conversa difícil ou decisiva, assuma que não sabe de tudo, escute ativamente o outro, procure entender onde está a convergência de ideias e, no seu momento de falar, exponha o que vocês concordam. Somente depois explique com dados e fatos o que discorda, os seus motivos e os impactos. Isso facilita a comunicação assertiva.
A segunda estratégia está conectada à inteligência emocional. E aqui vai um dado importantíssimo: de acordo com um relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial, essa é uma das habilidades essenciais para os profissionais do futuro.
De acordo com Daniel Goleman, psicólogo e pesquisador de Harvard, inteligência emocional é a capacidade que um indivíduo tem de fazer a gestão dos seus sentimentos, de modo que eles sejam expressos de maneira apropriada e eficaz.
O primeiro passo para melhorar a comunicação e a forma de lidar com conflitos é compreender como as emoções atuam no nosso corpo e quais podem ser os gatilhos que disparam as emoções. No exemplo que eu trouxe, expliquei que a minha mão começou a suar e, por isso, dei dois passos para trás. É porque o meu principal gatilho para a raiva é o suor na palma das mãos. Quando conhecemos os nossos gatilhos emocionais, temos condições reais de nos anteciparmos e mudarmos o resultado da discussão.
Primeiramente, precisamos entender o fluxo emocional: tudo começa com os pensamentos, depois vêm as emoções e, então, os comportamentos e resultados. Vamos a um exemplo para ficar claro:
Se eu não tivesse realizado a gestão da emoção, teria agido da seguinte forma:
A atividade que recomendo é criar um diário das emoções, estratégia da Susan David, psicóloga na Faculdade de Medicina de Harvard, autora do livro Agilidade Emocional.
Ela diz que é muito importante criarmos esse diário emocional para que possamos ampliar a consciência emocional. O exercício consiste em separar de 5 a 10 minutos diários para registar as situações que desencadeiam emoções. É importante que sejam respondidas três perguntas: 1. O que eu pensei? 2. O que eu senti? 3. O que eu fiz (comportamento)?
No meu caso, os registros seriam:
O mais importante é ter a consciência do gatilho, que vem pouco antes da emoção (para mim, como falei, foi o suor nas mãos). Ao compreender isso, você fica mais ágil em fazer mudanças e atingir os resultados que são importantes para você.
A terceira e última estratégia tem a ver com fazer perguntas, explorar o contexto e estar disposto a encontrar o melhor resultado para a situação.
As perguntas precisam ser focadas no resultado que você quer atingir. Sócrates refere-se a isso como o “ir em busca da verdade”. Eu, por exemplo, ao me distanciar do problema, consegui me perguntar quais eram os pontos de vista do meu aluno com os quais eu concordava, o motivo de ter discordado dele, o meu objetivo a partir daquilo e os resultados que buscava. Sugiro que você sempre faça a autorreflexão com as seguintes perguntas: quais são os pontos da explicação dele que concordo? Por que discordei? Qual é o meu objetivo a partir daqui? Quais resultados quero aqui? Quais são as divergências?
Em muito pouco tempo, repassei todas as perspectivas e, quando voltei para a discussão, a minha frase foi: “eu concordo com você”. Todos da sala ficaram pasmos. Em seguida, expliquei o ponto de vista dele, falei sobre a minha perspectiva e pontuei brevemente as opiniões conflitantes. Ao terminar de explicar, falei que não havia nenhum problema em pensarmos de maneiras diferentes, já que o assunto era muito polêmico. Ele concordou comigo.
As perguntas só fazem sentido quando fazemos os questionamentos com foco nos resultados que queremos atingir. Elas ampliam a sua perspectiva e a sua criatividade, fazem você sair da mesmice e trazer novos elementos para aquela apresentação ou discussão. Somente conseguiremos ter momentos decisivos com bons resultados se, primeiramente, estivermos abertos e dispostos a escutarmos novos pontos de vista – ou, como falei lá no início, se tivermos a certeza de que não sabemos de tudo.
Resumindo
E você, o que acha disso tudo? Já viveu coisas parecidas e tem novas sugestões? Compartilhe comigo e vamos conversar sobre! 😉